domingo, 27 de janeiro de 2013
Eu sou assim. Distraída. Simplesmente tem dias que não consigo me interessar por nada, nem ninguém. Minha mãe acha que sou estranha. Tá, eu devo ser um pouco. Tento absorver as histórias que me contam e fingir que prestei atenção com alguns "É, entendo." Sabe quando o mundo não te parece interessante o bastante? Não te faz pensar o bastante? Não te prende o bastante? É assim que eu me sinto quase todos os dias do ano. Mas não hoje. Hoje minha amiga não parava de falar em como o namorado dela era um idiota. Ok, eu já havia escutado aquilo dezenas de vezes. Talvez centenas. Não que eu tivesse me dado o trabalho de sequer prestar atenção. Mas hoje era diferente. Me interessei pelo assunto quando ela disse "Ele me pediu para ir tomar uma cervejinha com os amigos no bar, imagine só você, tomar-uma-cervejinha-com-os-amigos-no-bar", juro, ela nem parava para tomar um ar enquanto me contava a história. "Amiga, sério. Se ele me ama como diz amar, por que quer ir em um bar com os amigos? O que eles vão fazer lá? Óbvio que disse a ele que se fosse, eu terminaria. Ele não foi. Acho bom." Acho que na hora eu não pensei em ser delicada ou algo do tipo e soltei um "Você é louca?" e saí andando.
Vim para a casa pensativa. É sério que o mundo estava tão de cabeça para baixo assim? Acho que passei tempo demais me esquivando de assuntos rotineiros, e confesso, me assustei. As pessoas entram em relacionamentos achando que a partir daquele momento deverão se tornar gêmeas siamesas. É, isso mesmo. Aqueles gêmeos que não se desgrudam nunca, sabe? Tomam banho juntos, almoçam juntos, acordam juntos, trabalham juntos, vão na padaria juntos.. Que vida boa que deve ser, mal posso imaginar!
Um relacionamento é muito mais do que simplesmente amor. Na verdade o amor é o pontapé inicial, é o que nos motiva. O que mantém a casa em pé é a confiança. Você deve confiar em quem está ao seu lado. Você deve confiar em si mesma. Deixe que ele tenha um dia com os amigos, um dia para assistir o tão esperado futebol, um dia para curtir com a família. Todos nós temos - e devemos ter - nossa individualidade. Nossos compromissos. Aquele assunto que só queremos contar para um amigo especial. Aquele dia que precisamos sentar em um bar e desabafar. Então não pense que só porque você está em um relacionamento sério que seu namorado tem que sair com você a tiracolo para todo lugar. Acredite, se você proibir ele de sair um dia, ele vai dar um jeitinho de sair escondido em outro. E aí o que você prefere?
Deixe ele livre para escolher o que quer da sua vida. Que ele escolha os amigos. Ou a cervejinha na quarta feira. Pode escolher o trabalho. A família. Mas não se esqueça - ele pode escolher você.
Prenda muito alguém e ele vai querer ser livre. Deixe livre e ele vai querer se prender. Acho que minha amiga está precisando aprender isso.
Quem ama, fica. Fica porque sair correndo pra longe é uma alternativa que simplesmente não existe como abandonar o local mais aconchegante desse planeta - aquele abraço que carrega um pouquinho da gente e nos passa uma paz absurda, calmante. Quem ama, tenta. Tenta porque pode não dar certo e não ser a primeira tentativa, mas enquanto houver palpitação nos segundos antes de ver ao vivo e mãos suando frio pelo medo de não dar certo de vez, é mais fácil se aprumar de comprometimento e dedicação que se acovardar sem nunca saber como poderia ter sido até então. Que ama, quer estar junto. À dois, justamente pela força da conexão que ainda existe, mesmo em dias que o sinal anda fraco e a gente acaba por não captar tão bem a sintonia. Quem ama não desiste. Até porque, desistir é tarefa pra gente fraca e esse lance de amor só cabe em quem é do tamanho da coragem - e poucos conseguem ser tão grandes por dentro. Quem ama, aprende. Ensina a si mesmo a respirar profundamente antes de descarrilhar emoções adversas, a contar até um milhão se for possível, a fazer da paciência uma aliada ao louco amor, porque só dessa maneira é possível funcionar em dupla. Quem ama pensa em futuro. E por pensar, diz. E por dizer, não se deixa levar pela maré de carnaval, amigos solteiros, crises e fases ruins. Escolhe conservar sonhos futuros e não deixa que aos poucos certezas ruírem e daqui uns meses sobre apenas ódio, nojo, indiferença. Quem ama se preocupa. Acha simplesmente impossível seguir vivendo sem saber se ela voltou a comer chocolate e foda-se se possui lactose, não lida bem com a convivência de nunca mais saber se ele foi à academia e o sabonete para o rosto anda fazendo efeito. Quem ama, cuida. Toma-se do maior cuidado do mundo pra que muita gente não pragueje contra o objeto de amor, cultiva uma admiração que vai além dos campos sentimental e psíquico, tenta andar na linha pra que brigas eternas não se repitam e gerem apenas choradeira e rancor. Quem ama, sofre. Machuca ter e não estar bem; dilacera não ter e não saber como seria se tudo ao estágio maravilhoso retornasse. Mas mesmo assim, luta. Até o fim porque a gente se perde nesse labirinto chamado vida, cheio de difíceis escolhas e tentações, mas com o escudo da vontade própria e um pingente que cintila perto do peito fica mais fácil gladiar contra os percalços no meio do caminho. Quem ama se desespera. Sai um pouco de si porque a simples ideia de perder alguém que na prática não nos pertence mais é exasperador. Quem ama se compromete. Dá a palavra, assina contratos verbais, se faz presente na vida diária, porque o cotidiano conta pontos intermináveis quando é lotado de tanto carinho. Quem ama, volta. Se permite voltar de ideia. Cai em si no tempo exato, leva em consideração horas ruins e momentos maravilhosos, se nega a ver como lembrança a paz de acordar do lado e dormir bem uma noite inteira por ser quase completo ali. Pondera na balança toda a felicidade grotesca de estar juntos e o infortúnio do desgaste que o passar do tempo obra na relação. Quem ama quer, quem ama precisa, quem ama dá a mão, mesmo no calor, pra ter a certeza de não soltar nunca mais. É por isso que até agora eu não sei porque ele se foi. Talvez, pelo mesmo motivo incompreensível de estar aqui, ainda. Sozinha.
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