Das
lembranças vivas, eu fico me perguntando a cada meia hora: vai ser como
daqui em diante? E dá um medo monstruoso se reorganizar a vida sem ser à
dois. Mas vai ter que ser. Vou ter que ir viajar pra longe, ver um
pouco desse mundo, conhecer mais gente pra ver se o amor se dissipa ou
somente aumenta. Enquanto isso, toda vez que se ilumina por aqui alguma
memória dessas que doem nas primeiras semanas, eu questiono a cada uma
delas: com quem será, meu deus? Vai ser com quem que ele vai ficar junto
uma noite inteira, de mãos dadas, sendo o cara que toda menina quer no
começo? Que criatura vai poder ter a sorte de o ver de manhã cedinho com
a cara de sono mais apaixonante que eu já conheci? Não pode existir
nesse mundo quem ele sirva o prato, faça mil cosquinhas até que ela diga
"chega!", menina nenhuma que seja espontânea demais a ponto de ele
fotografar cada jeito dela de ser.
Me recuso a acreditar que ele vá, daqui alguns dias, levar outra pra
beber num bar charmosinho e ter um papo ótimo e pegar na pulseirinha
dourada pra também fazer carinho no pulso. Com quem será que ele vai
alimentar os peixes, ficar ao sol para sair da brancura outonal, jogar
vôlei na piscina? É injusto que ele encha de beijos outra carinha macia,
que não a minha. É doloroso saber que talvez outra garota faça cara de
nojo quando ele chega perto com uma colher de feijão, ou que enquanto
ele dirige, ela vai colocar a mão na perna dele, bem ali onde a minha
ficou grudada por quase dois anos. Desolador, diria eu, não ser esmagada
a cada final de semana, principalmente na hora de dormir ou assim que a
saudade poderia ser morta aos poucos. Será que vai ter quem olhe para o
braço dele e elogie os resultados da academia? Eu duvido muito que alguma menina por aí deixe que ele
penteie seus cabelos, como faria a um bebê, lentamente. Que ajude a
lavar o carro e ensope a sapatilha, apenas pelo prazer da companhia.
Duvido.
Vai aparecer hora ou outra quem não tenha nojo de beijar o dedão do pé
dele, que ame os pelinhos que tem cima de cada um, que não recuse sexo
nunca, nem mesmo de luzes acesas. Quem vista uma camiseta velha dele e
ache o melhor pijama do mundo, que acorde feliz só por estar ali, do
lado direito da cama - local onde vai passar a ser sua propriedade.
Algum dia, vão planejar nomes de filhos, quantidade e ele, aceitará, porque nesse mundo duvido que exista alguém tão
compreensiva, você sabe. Com quem será que ele vai desabafar as
agruras do dia, relaxar meia horinha que na verdade se transformarão em
quase duas horas? E analisar o rosto bem de perto assim e mexer no nariz e fazer
caretas? A que mulher nesse mundo ele vai mostrar seu lado maravilhoso
pra que ela não queira ir embora nunca mais? Me pergunto se existirá
algum dia alguém com a nossa conexão de filmes e músicas novas e futuro
longe daqui.
Com alguma magrela mais baixa viciada em exercícios e com um coração
muito menos sentimental com o meu, talvez. Sem a inconstância e que
tenha a paciência de jó que nunca tive nessa vida. Sem o sangue nas
veias e quase jorrando os olhos de intensidade, porque é dessa maneira
mesmo que eu vivo, mesmo quando tento me enquadrar num jeito de ser que
se dá melhor com a sociedade. Com alguém que seja a calmaria que eu só
consegui ser no começo. A paz que eu deixei de representar no minuto em
que decidi que quem me amasse, no duro, teria que passar por algumas
tormentas pra chegar ao paraíso. Ele cansou de inferno e céu porque é
trabalhoso demais ir e vir de lugares tão distintos a cada dia. Eu
também. Agora tudo isso vai ser com quem ele quer que seja.
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