sexta-feira, 1 de março de 2013

Infinitas Possibilidades

Numa dessas minhas insônias, que há dias tem voltado-sumido-reaparecido, observei a imensidão da Lua, na minha janela que tremula a cada caminhão pesado, ou som com mais de oitenta decibéis. Tão sozinha, brilhante e gritante. Branca, em suas esferas, rodeando o Sol sem culpa, sem remorso algum. Vivendo em torno do outro, esquecendo o próprio umbigo, suas necessidades vitais. Quanta compaixão! Queria ir pra praia, pensei. A combinação lunar e aquática, tão mais bonita do que essa urbanidade toda, que a solidão parece ainda maior. Soa muito mais agudo. De nada adianta essa sincronicidade inocente falhada. Em ruínas, sob escombros e destroços, me surpreendo com a própria força e maturidade que já adquiri. E mais surpresa ainda, com as recentes e recorrentes, possibilidade. Mil.
Não nomeio o que sinto. Nem ao menos, o que vivo. Apenas, estou feliz, estou indo, estou bem. Na minha independência maior de idade, no meu detalhismo insistente, continuo a mesma. E afinal, nem foi tão ruim assim. A gente fica triste, mas no outro dia, já esquece tudo outra vez e pensa no que viveu, rindo. E não é bem o que a gente quer, mas a gente aceita. Não tapa totalmente o buraco, mas conforta por algum tempo, dá uma massageada no ego. Por mais que necessite tempo, pra me achar, pra tudo clarear, são as possibilidades, os acasos que tem seduzido e se insinuado, dançado loucamente sob a minha sacada e na minha alma. Caminhos pro futuro, expectativas de vida longa, intuição boa de que no próximo script, a resolução desse quebra-cabeça todo é certeira. Até ganhar flores de novo me fez sentir que está tudo como deveria estar. Tudo certo, tudo inerte, tudo perto. Montada na produção, sigo o baile, a estrada é longa! Aqui não tem fila que anda, mas opção que ocorre. Não corre; caminha, lenta e bonita, rumo à certeza de vida.

Aquele gostinho

Posso começar? Ok. Não sei bem ao certo quando aconteceu. Remei, remei e remei pra maré mudar, e acho que está acontecendo. O barco aos poucos foi virando, e toma vento forte, rumo pra outro porto. Pelo menos, é o que parece. Na verdade, me dei conta apenas hoje. Me presenteei aquele tempo necessário, onde a gente chora a cada música romântica no rádio, se vê em cada personagem sofredor de novela, tem vontade de ver filmes dramáticos, e o nosso cobertor vira o nosso melhor amigo. A cama, quase nossa casa. Confidente e acolhedora, quase um lar, um óasis da dor. Tive alguns dias de insuportabilidade doentia, onde aluguei alguns amigos, horas e horas à fio, vendo e revendo fatos, insinuações, distorções, a história como um todo; contexto e estigma. Gênero e grau. Conclusões, algumas. Conselhos, muitos. Eu sei, eu sei. E eu me permiti tudo isso. Assinei com convicção o contrato para enclausuro e fim de solidão, recomeço de esperança e felicidade. Abaixei o som, quando tocavam músicas que me instigavam fundo, mexiam dentro e me faziam nostálgica. E comecei a ler um livro que li há muito tempo, novamente. Comprei roupas, e um par de sapatos novos, que fizeram subir gradualmente minha auto-estima. Fim dessa confusão toda, e me vejo negando esse ódio da vida, e vendo que, a felicidade é uma opção. Não mais que isso, uma bela e grande opção. Quer, ou não quer. Embarca, ou não vem. Comecei a crer nas possibilidades, sabe? A gente tende a achar que tudo é passageiro, que a vida não é muito aí pra nós, mas se a gente não acredita, é isso que ela se torna: alheia e tão insignificante, quanto passageira. E acho esse processo todo, super válido. Como, se não assim, se preparar pra receber amor, amor bom e com gosto decente, se não desocupando a vaga, tirando o time (totalmente) de campo? Vejo apenas o sumiço, a reestruturação como alternativa. E dona dos meus caminhos e percalços, rodovias e vias de tráfego, acho esse tempo es-sen-ci-al. Tanto que, chegou. Chega de dor, e de papel de vítima. Sentada com perna de índio, cruzadas e olhos fechados, voltamos a ser o que éramos. Que alívio. Pegamos então o mapa, que deveria o tempo todo estar nas nossas mãos, e miramos o horizonte, uns trajetos brilhantes, honrosos e merecidos. Mais do que válidos, muito mais: concebidos.


Mesmo que a gente afaste com barreiras de proteção, e cavaletes, as pessoas querem entrar, querem povoar nosso íntimo. Não tem hora, e só pedem lugar. Aos poucos, e por que não? Quem sabe, ué.. O destino nos prega tantas peças, porque não mais uma? Mas a gente quer voltar. Tem recaídas. E chora um dia, sabendo que é a última vez: chega a hora de deixar para o futuro o que tiver de ser. Uma pena, mas as lágrimas são saborosas. São um prenúncio, um aviso vão; acaba daqui a pouco, e é só correr pro abraço.
Dias vazios nos acometem, e ficamos assim meio à deriva, sem rumo e marco certos, mais pra lá do que pra cá. Podia estar melhor, mas tá tudo meio assim, desgostante. Vai melhor, eu sei. Mais cedo do que você imagina, me dizem. E então, a gente sabe que desapaixonou, quando sorri apenas por ver outra pessoa. E o melhor - isso não quer dizer que estejamos apaixonadas. Ainda. Não é paixão, mas o calor de uma possibilidade, de quem sabe, um dia ser. O coração palpita, você ensaia mentalmente falar calma e certeira o que está falando, e no final, a gagueira te pega mais uma vez. Nervosismo, mãos que suam, palavras que saem da boca, fugitivas. É a melhor sensação: sair de um pesadelo, e conseguir (se quiser) entrar numa nova jornada, novas ações; nova pessoa. Quer coisa melhor? A gente sorri pelas possibilidades, e não por já entrar em outra aventura. Mas por se ver livre, completamente livre, daquele pesadelo inteiro..Quer coisa mais bonita, mais completa, e transparente, do que a liberdade? Não a que alguém me deu, e sim, a que escolhi por mim mesma. Não. Não quero, não. Escolha assim, de gostar e desgostar, de amar e desamarrar, é pra poucos. Como em tudo que faço, a pressa é campeã. O primeiro encontro é mágico, o segundo excitante, e no terceiro já estou totalmente envolvida - ou entediada. No amor, não vejo como ser diferente: me apaixono rápido; desapaixono mais rápido ainda. Simples. Pra entrar no jogo, basta deixar os dados rolarem; a sorte está lançada, e as oportunidades na mesa. Sorte no amor, azar no jogo. Felicidade nos dois? Bom jogo!